segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Amigos professores, historiadores, filósofos, antropólogos, cientistas sociais e leigos de plantão!

Inicio das aulas chegando, todo mundo empolgado para um novo recomeço. Professores e alunos esperam ter um bom ano, prazeroso, agradável e produtivo. Mais professores, acho... De qualquer forma terei este ano duas 8º, três 1º, dois 2º e três 3º. Bastante coisa né. Espero dar conta.

Enfim, como primeira abordagem, com intuito de apresentação e direção do ano letivo pretendo abordar o caso de Pinheirinho e talvez da Nova Luz. Muitos dos meus alunos que estudarão comigo na escola Major Arcy próximo ao metro Ana Rosa, não são é claro pertencentes à classe social que circunda a escola já que ali é um bairro bem caro. Meus alunos são moradores  de outras regiões e de um tipo de moradia de baixa renda muito comum nos espaços centrais, os cortiços. Fiquei muito afim de direcionar todo o curso pra três questões centrais: terra, trabalho e cultura. Muita coisa, mas dá pra fazer.

Meu intuito com esse post é pedir ajuda dos meus amigos historiadores. Sobre o caso de Pinheirinho saiu muita coisa na internet. O que eu preciso é um texto jornalístico, não muito longo, que explique de forma clara o caso de Pinheirinho. Isso pensando que o mesmo texto será usado para as quatro séries. Será só para uma abordagem inicial. Por favor, alguém leu algum texto na net que se encaixe nesse formato?

Ahhh, também terei uma 5º série, recém saída da 4º... quero fazer com eles uma cápsula do tempo pra abrir no fim do ano.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pinheirinho X BBB – O que vale mais?

Sei que os desavisados devem estar matutando o que assuntos tão diferentes podem estar fazendo no mesmo post. Trata-se saber o que vale mais.
                Bem, ao assunto do idiotizador programa BBB, não preciso explicar, já que se você mora no Brasil,  sabe da merda toda. Por outro lado um número bem menor de pessoas sabe ou entende o que está acontecendo com a comunidade de Pinheirinho. Explico: há muitos e muitos anos, despossuídos de São José invadiram  uma área privada e montaram lá uma pequena favela que conta hoje com o número simbólico de 5 mil pessoas. E apesar da existência de uma lei chamada Usucapião que garante a posse da terra se provar que morava na área por pelo menos 5 anos, uma reintegração de posse foi emitida e a comunidade deve na forma da lei, retirar-se pacificamente de um lugar que não lhe pertence. Acontece que indignados com a ação os moradores resolveram que não vão sair, e se armaram, coitados, de paus e pedras recusando-se a deixar a área. Pelo menos pacificamente. Não importa os nomes. Quem é o proprietário? Tanto faz. O juiz? Não importa. O que importa é o precedente. Em meio às desculpas dadas pela mídia de que há grupos de esquerda radical infiltrado no meio do povo, incitando a resistência - já que para a elite política do Brasil o povo é absolutamente incapaz  de se organizar politicamente sem que para isso sirva de massa de manobra – a reintegração de posse será feita. De um jeito ou de outro. Não há nenhuma possibilidade de que esta comunidade permaneça no local, mesmo que se encontrem soluções para remanejar a população ou qualquer outra coisa pelo simples fato de que “já pensou se a moda pega”. O que conta agora é o precedente. Se algo bom acontecer por lá com aquelas pessoas, mesmo que a mídia demonize, esconda, escamoteia da forma mais escrota possível, é bem capaz do povo perceba o poder que tem. Isso não é admissível para um país feito de políticos interessados unicamente em prolongar sua estada no poder, roubando dinheiro público sem nunca perceber da sua real função como governante.  Por outro lado, se algo ruim acontecer, os fatos serão amenizados pela mídia, que diga-se de passagens é constituída pelos mesmos políticos acima citados, que culpabilizarão os revoltosos, transformando mais uma vez a polícia truculenta em heróis. Quem sabe isso não renderá mais uma estrela no peito desta tão maravilhosa instituição, que já prestou enormes serviços como a destruição de canudos, da  revolução constitucionalista de 32, e o engajamento no golpe, digo  revolução, de 1 de abril, digo 31 de março de 1964.
Acho que, de verdade, a questão não é mais essa, mas o pivô dessa história é a mesma de sempre.  A defesa da propriedade. Esse é o principio que todos defendem. A propriedade privada vale mais do que a vida humana. De quantas vidas estaremos falando logo mais, quando a reintegração de posse for efetivada? Ainda não sabemos. Mas o que importa a vida diante da propriedade privada? Nada. Ainda mais se as vidas de que estamos falando forem de pessoas esquálidas, pretas e sem força política pra fazer valer uma lei criada por um bando de gente rica, para usufruto de gente rica.
                E o que tudo isso tem a ver com BBB? Quando se entra num programa com esse formato, deve ser mais ou menos como assinar um pacto com o demônio. Você vende seu corpo e sua alma por alguns tostões que pode ou não ser o bastante. Sendo a partir daí propriedade privada de outrem, e sendo a vida humana menos valiosa, não mais ligarão para seu corpo. Daí o possível estupro ocorrido, que envolvem tantas questões que não vou citar aqui, ser encarado da forma que foi. A posse do corpo, e da alma, não vale mais nada.         
                A para os superficiais de plantão que logo dirão que eu sou vermelha, que quero fazer revolução e aquela cretinice toda de esquerdismos, etc., devemos lembrar que esse país não será desenvolvido enquanto não se fizer uma reforma agrária séria e uma distribuição de rende verdadeira (vide os países com melhor IDH do mundo).
Cartaz fofo da Policia militar pedindo que os moradores deixem
simpaticamente suas casas para trás
               Porque estamos crescendo em cima de miséria, nossa prosperidade econômica cresce em cima de cadáveres gerados pela violência, que vem da miséria social, e aqui sim o mesmo clichê de sempre. Que de tão clichê é ignorado. Dou todo o meu apoio à comunidade de Pinheirinho, não porque eu quero a destruição da propriedade privada ou revolução, mas porque um país só vive democracia quando o seu povo resolve tomar tal palavra ao pé da letra: Governo do povo!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Bem vindo ao país da Borracholândia

Todos têm acompanhado com expectativa os acontecimentos sobre a cracolândia. Depois de mais de uma década de intensa, ausência o Estado finalmente tomou uma iniciativa. A única que o governo de São Paulo sempre toma em qualquer caso. POLÍCIA. Óbvio que qualquer cidadão desta cidade ou do Brasil pensa que o crack é foda mesmo. Todos têm alguém na família ou na família de alguém perdido nas drogas. Dos mais reacionários aos meio centro ou revolucionários de botequim, todo mundo concorda que algo deve ser feito quanto ao consumo dessa droga infalivelmente destruidora.
                A forma que o Estado entende é que usuários não têm condições de decidir por si e o jeito é internação compulsória. A inteligente discussão do momento é até que ponto pode-se obrigar alguém a se tratar, até onde o Estado pode intervir no direito individual de cada um. Juristas de um lado, médicos de outro, todos querendo obviamente tomar a decisão mais sábia. Linda discussão. O estado no centro. Objetivo: limpeza social.
                Tudo muito bem, tudo muito bom. Enquanto discuti-se, polícia, bomba de gás, borrachada. Força, autoritarismo e violência. O próprio mundo dos drogados. Os últimos acontecimentos reforçam a minha já tão batida percepção sobre a administração pública do Estado de São Paulo. A de como o Estado encontra-se longe da juventude. Em princípio prende estudantes da maior universidade do Brasil, um mês depois, agride que já ta muito fudido. Entre faltas de opções para os jovens, não apenas de lazer e de educação, mas de estruturas básicas como habitação e alimentação. Mas o crack não é uma droga social, dirão os conservadores. Não há classe social. De fato, ainda faltam as inúmeras pesquisas que certamente ploriferam nas universidades nos dizer quem é o usuário de crack. Enquanto isso não acontece, sigo minha intuição pensando que se não são 100 por cento de jovens pobres que habitam – ou habitavam – a cracolândia, é pelo menos a maioria.
                Eu condeno a ação do governo pelo simples falto de que ela não resolve porra nenhuma. Parece que o problema está restrito a uma questão geográfica. Fala sério!!! Enquanto não se parar de tratar o problema de forma conservadora e autoritária, mais e mais jovens entraram nesse mundo super sinistro. Resolvamos o problema social para depois pensar no playboizinho que entra nessa por diversão. Reduzamos o número de usuários com medidas sociais, para depois pensar em psicologia.
                Por enquanto, borrachada neles, para que se pensem que estão fazendo alguma coisa. Mas que é a coisa errada é!
                

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

olho por olho

Tornou-se lugar comum o desabafo holocaustico na Internet. Agora a sociedade inteira vomita todas as suas piores escrotices em poust, vídeos e sei lá mais o que para desenhar uma sociedade da vingança, do medo e da violência. O último episódio foi a reação das pessoas ao caso do cachorro que foi filmado sendo morto. Pulularam “reflexões” vingativas afirmando que deveria-se fazer com a tal senhora a mesma coisa que ela fez com o finado totó.

Reflitamos: O código de Hamurabi que tem seus primeiros indícios datando de 1700 aC pregava a Lei de Taleão, muito conhecida pela máxima “olho por olho, dente por dente”. Muito superficialmente explicando, de acordo com esse sistema de pensamento um crime praticado ali deveria ser punido com a mesma intensidade contra o agressor com que este tratara sua vítima. Em suma, se alguem lhes roubassem as laranjas, você poderia fazer o mesmo. E se alguém cortasse a cabeça de sua mãe, se ficasse provado o crime, então você poderia cortar fora, não a cabeça do agressor, mas a da mãe dele. Igualdade entre crime e punição. Percebe?

Felizmente a sociedade mudou bastante, não sei se para melhor. Mas mudou. Pelo menos do ponto de vista legal, a vingança deixou de ser uma punição. Sendo agora a justiça a responsável por punir com multas e a privação da liberdade algum crime cometido.

Entretanto a internet tem-se revelado um excelente veículo do que tem de pior e mais cruel do ser humano. Por um lado proliferaram imagens absurdas de violência gratuita, como uma mulher esmurrando um cachorro até a morte. Cenas as quais assistimos atônitos de forma voyeristica, sem que nada possamos fazer. Por outro lado, pessoas vomitam diariamente na rede mensagens de ódio e de vingança. O que me fez escrever esse texto foi a reflexão que tentei fazer sobre como separar essas pessoas da primeira. Ou seja, o que torna essas pessoas diferentes da mulher que cometeu tal atrocidade. E a resposta é simples, o motivo. Pelo que parece, há motivos válidos para se surrar alguem até a morte. Por exemplo, Hitler e os alemães acharam um motivo válido para assassinar 4 milhões de pessoas. Também EUA acharam obviamente que enviar seus próprios cidadãos para morrer em guerra como a do Vietnã, Afeganistão e Iraque deveria ter um motivo justo. Também sérvios acharam que para uma limpeza étnica ser bem feita era válido assassinar compatriotas muçulmanos, cortando seus órgãos sexuais ( para que não pudessem perpetuar sua espécie) e estuprando rigorosamente vilas inteiras de mulheres – e meninas – para que estas produzissem crianças sérvias. Isso para falar de casos famosos. Mas sabemos muito bem que muitas pessoas acham válido esmurrar uma pessoa até a morte por exemplo, por causa de sua opção sexual. Em suma, ao que parece, as pessoas acreditam que de acordo com seus motivos pode-se enfim cometer atrocidades.

Permitam -me discordar disso! De acordo com meu sistema de pensamento, chego a conclusão que não há efetivamente nada que diferencia pessoas que acharam que deveria-se fazer a mesma coisa com tal mulher, da dita cuja. Nada mesmo! E ainda faço a pergunta aos que odeiam tanto! Quem deveria fazer? Quem deveria pegar a tal mulher e rodá-la, atirá-la na parede, etc... Você faria? A polícia, o Estado, quem? Então, amigos e amigas, eu vós digo o que EU tenho diferente dessa moça. Eu não lhe retribuiria. Não faria isso com ela, punindo-a vingativamente e é claro, por tabela, à seu filho que teria a mãe surrada até a morte. Eu não faria com ela e nem com ninguém – assim espero – pois eu acredito que a força da lei deve estar acima de tudo, embora ela mais falhe do que acerte. E ainda sugiro aos que se acham tão superiormente protetores de animais, que façam a gentileza de visitarem um matadouro de bois, galinhas e porcos e lá verão que a crueldade cometida contra esses animais que não tem a sorte de terem os homens como amigos, como os cachorros, é tão ou mais horrível do que a que sofreu o probrezinho do auau. E o pior de tudo, com a sua conivência.