terça-feira, 20 de dezembro de 2011

olho por olho

Tornou-se lugar comum o desabafo holocaustico na Internet. Agora a sociedade inteira vomita todas as suas piores escrotices em poust, vídeos e sei lá mais o que para desenhar uma sociedade da vingança, do medo e da violência. O último episódio foi a reação das pessoas ao caso do cachorro que foi filmado sendo morto. Pulularam “reflexões” vingativas afirmando que deveria-se fazer com a tal senhora a mesma coisa que ela fez com o finado totó.

Reflitamos: O código de Hamurabi que tem seus primeiros indícios datando de 1700 aC pregava a Lei de Taleão, muito conhecida pela máxima “olho por olho, dente por dente”. Muito superficialmente explicando, de acordo com esse sistema de pensamento um crime praticado ali deveria ser punido com a mesma intensidade contra o agressor com que este tratara sua vítima. Em suma, se alguem lhes roubassem as laranjas, você poderia fazer o mesmo. E se alguém cortasse a cabeça de sua mãe, se ficasse provado o crime, então você poderia cortar fora, não a cabeça do agressor, mas a da mãe dele. Igualdade entre crime e punição. Percebe?

Felizmente a sociedade mudou bastante, não sei se para melhor. Mas mudou. Pelo menos do ponto de vista legal, a vingança deixou de ser uma punição. Sendo agora a justiça a responsável por punir com multas e a privação da liberdade algum crime cometido.

Entretanto a internet tem-se revelado um excelente veículo do que tem de pior e mais cruel do ser humano. Por um lado proliferaram imagens absurdas de violência gratuita, como uma mulher esmurrando um cachorro até a morte. Cenas as quais assistimos atônitos de forma voyeristica, sem que nada possamos fazer. Por outro lado, pessoas vomitam diariamente na rede mensagens de ódio e de vingança. O que me fez escrever esse texto foi a reflexão que tentei fazer sobre como separar essas pessoas da primeira. Ou seja, o que torna essas pessoas diferentes da mulher que cometeu tal atrocidade. E a resposta é simples, o motivo. Pelo que parece, há motivos válidos para se surrar alguem até a morte. Por exemplo, Hitler e os alemães acharam um motivo válido para assassinar 4 milhões de pessoas. Também EUA acharam obviamente que enviar seus próprios cidadãos para morrer em guerra como a do Vietnã, Afeganistão e Iraque deveria ter um motivo justo. Também sérvios acharam que para uma limpeza étnica ser bem feita era válido assassinar compatriotas muçulmanos, cortando seus órgãos sexuais ( para que não pudessem perpetuar sua espécie) e estuprando rigorosamente vilas inteiras de mulheres – e meninas – para que estas produzissem crianças sérvias. Isso para falar de casos famosos. Mas sabemos muito bem que muitas pessoas acham válido esmurrar uma pessoa até a morte por exemplo, por causa de sua opção sexual. Em suma, ao que parece, as pessoas acreditam que de acordo com seus motivos pode-se enfim cometer atrocidades.

Permitam -me discordar disso! De acordo com meu sistema de pensamento, chego a conclusão que não há efetivamente nada que diferencia pessoas que acharam que deveria-se fazer a mesma coisa com tal mulher, da dita cuja. Nada mesmo! E ainda faço a pergunta aos que odeiam tanto! Quem deveria fazer? Quem deveria pegar a tal mulher e rodá-la, atirá-la na parede, etc... Você faria? A polícia, o Estado, quem? Então, amigos e amigas, eu vós digo o que EU tenho diferente dessa moça. Eu não lhe retribuiria. Não faria isso com ela, punindo-a vingativamente e é claro, por tabela, à seu filho que teria a mãe surrada até a morte. Eu não faria com ela e nem com ninguém – assim espero – pois eu acredito que a força da lei deve estar acima de tudo, embora ela mais falhe do que acerte. E ainda sugiro aos que se acham tão superiormente protetores de animais, que façam a gentileza de visitarem um matadouro de bois, galinhas e porcos e lá verão que a crueldade cometida contra esses animais que não tem a sorte de terem os homens como amigos, como os cachorros, é tão ou mais horrível do que a que sofreu o probrezinho do auau. E o pior de tudo, com a sua conivência.